- Carla Dayube Nunes
A violência no futebol: dos clássicos às mídias sociais nos dias de hoje
Atualizado: 24 de Jul de 2020
Muitos esportes e, o futebol, em sua extensa popularidade, vem tentando, ao longo dos anos, incluir e incentivar o pensamento de não violência. Aproveitando a sua exposição na mídia, seu marketing, para exibir faixas, momentos de confraternização entre times opostos, seu apoio às causas como racismo, aceitação, inclusão entre outros, é uma ferramenta poderosíssima para combater causas injustas e mandar mensagens positivas.
Esse caminho traçado pelo esporte, tenta ajudar a reeducar, em todas as oportunidades e na igualdade de oportunidades, pois desde as escolinhas de futebol para crianças, se ensina respeito às diferenças, a assimilação e respeito às regras, e normas de convivência os outros.
“Assim como os demais esportes coletivos, o futebol permite uma perfeita sincronia e sintonia entre indivíduos e grupos, colocando em prática um dos ideais fundadores da democracia, o que os gregos clássicos consideravam ser o melhor e mais produtivo nas atividades humanas: a ação deve ser coletiva, mas sem excluir o brilho da iniciativa individual”. (MURAD, Maurício – A violência e o futebol: dos estudos clássicos aos dias de hoje)
O futebol procura trabalhar esses ideais dentro e fora de campo. Desde suas plurais narrativas, os discursos dos jogadores, técnicos e presidentes, é muito comum ouvir que “ninguém ganha nada sozinho”. Fora o sentimento de pertencimento a um grupo, uma coletividade.
Mesmo assim, acompanhamos momentos bizarros e muito feios ao longo dos anos. No imaginário Livro das Espécies; a Macieira, no Jardim do Éden do Futebol, brasileiros são estereotipados como macacos por muitos anos. Ao disputarem, em 1920, o Campeonato Sul Americano no Chile, os integrantes da Seleção foram chamados de “Macaquitos” por um jornal argentino.
Daniel Alves

Trinta minutos do segundo tempo entre Villareal e Barcelona. Daniel Alves, titular do Barça, se encaminhou para bater um escanteio. Para sua surpresa inicial, uma banana foi atirada em sua direção. Porém, a melhor resposta e surpresa partiram do lateral, que pegou a fruta, descascou-a, comeu e efetuou a cobrança, num “dar de ombros” para o ato preconceituoso.
O triste é que aquele era o oitavo caso de racismo nos gramados espanhóis somente na atual temporada. Mas estamos falando de Futebol: cansado, o camisa 10 da seleção brasileira e companheiro de time de Daniel na época, Neymar, lançou em seu Instagram pessoal, ao lado de seu filho Davi Lucas, uma campanha em apoio ao compatriota e contra ridículos ataques de racismo que muitos colegas de fora estavam recebendo. Craques, em maioria brasileiros, surgiram de todos os campos e aderiram à campanha da banana. A #somostodosmacacos subiu para trendy topics em todas as mídias sociais. Identificado, o “torcedor” foi banido dos jogos do Villareal.

Mas infelizmente, não: racismo não é o único tipo de violência em campo. Confira mais alguns exemplos episódios desafortunados:
São Paulo x Corinthians (final Campeonato Paulista 2019): em confronto de torcedores do São Paulo e Corinthians, ao menos 14 pessoas ficaram feridas na manhã de domingo (14/04), em Ferraz de Vasconcelos, na região metropolitana da capital paulista. De acordo com a Polícia Militar, cinco torcedores foram presos e os feridos foram encaminhados para hospitais da região, tendo pelo menos três pessoas baleadas. A suspeita é de que o confronto foi marcado pela internet.
Palmeiras x Júnior Barranquilla (Libertadores 2019): o ônibus que levava a delegação do Palmeiras para o jogo de quarta-feira, 10 de abril, contra o Junior Barranquilla, pela Copa Libertadores, foi apedrejado quando se aproximava do estádio.
Santos x Independiente (Libertadores de 2018): bombas em direção ao gramado, jogadas em direção ao banco de reservas do Independiente e ao gramado, muitas cadeiras quebradas e invasão ao gramado por parte da torcida santista marcaram mais um capítulo infeliz da violência nos estádios.
Devido à confusão e falta de segurança, o árbitro Julio Bascuñan encerrou a partida aos 42', com eliminação do time paulista. Dessa forma, a Conmebol decidiu punir ao Santos pela escalação irregular de Sánchez, o que causou a derrota por 3 a 0 no jogo de ida (que havia terminado em empate sem gols).
Flamengo x Independiente (final da Copa Sul-Americana 2017): a partida ficou marcada por violência contra um torcedor argentino, flamenguistas jogando objetos contra o ônibus da equipe, os ainda sem ingresso tentando invadir o estádio. A polícia reagiu com a cavalaria e bombas de gás lacrimogênio. Em outro ponto, fora do Maracanã, torcedores jogaram lata de lixo e garrafas contra policiais, que reagiram com bala de borracha, spray de pimenta e bombas de efeito moral.

Dessa forma, você pode estar se perguntando o porquê desse tópico ser discutido agora, em uma fase onde o futebol acontece de portas fechadas e sem torcida: sem possibilidade de brigas, confrontos, polícia ou qualquer perigo. Existem dois argumentos para que esta, que vos escreve, decidisse abordar o tópico.