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Fisiologista do esporte: mocinho ou vilão?
A intervenção do biomédico fisiologista do esporte hoje nas equipes de futebol é um mal necessário. O trabalho deste profissional é tão significativo, pois o resultado de sua análise sobre a condição física de determinado jogador de futebol pode retirá-lo de uma partida importantíssima desfalcando a equipe e muitas vezes trazendo um grave prejuízo. Por outro lado, a ciência da fisiologia se tornou grande aliada das comissões técnicas uma vez que o fisiologista através de suas análises sabe qual tipo de exercício e a carga exata que determinado atleta pode se submeter, tanto para evitar lesões, quanto para o aumento do seu desempenho físico.

A fisiologia em sua origem se baseava na prescrição de exercícios com fins terapêuticos no tratamento e prevenção de doenças. Somente ao final do século 19 que preocupou-se em ser objeto de estudo científico. Destaca-se que somente nos anos 70 iniciou o estudo da fisiologia do esporte tendo como precursor Maurício Leal Rocha, professor da Escola de Educação Física da UFRJ. O professor inovou em dar início aos estudos sobre fisiologia do esporte, e ainda, foi o pioneiro nos estudos da medicina esportiva.
Se no início o papel do fisiologista estava restrito à prescrição de exercícios para fins terapêuticos, tratamento e prevenção de doenças, houve um upground, pois hoje no futebol atua como protagonista, suas análises são tão importantes que são capazes de interferir na escalação das equipes. O estudo da fisiologia no esporte, principalmente no futebol, tem como aliada as novas tecnologias podendo destacar o auxílio do GPS, acelerômetros, câmeras que analisam todos os atletas em um jogo em tempo real, etc.
Mas o que faz um biomédico fisiologista do esporte?
O profissional faz uma verdadeira investigação científica atuando na captação e estudo de dados clínicos para detectar, mensurar a probabilidade de uma atleta profissional ou praticante de atividade física apresentar problemas fisiológicos a curto, médio e até longo prazo. De acordo com estudiosos, este estudo leva em conta a resposta que funções orgânicas dão ao estresse imposto por uma sessão de exercício físico.
Tal função é muito complexa que em sua atuação o fisiologista do esporte tem que ter amplo conhecimento sobre várias áreas como: bioenergética, bioquímica, função cardiopulmonar, biomecânica, hematologia, fisiologia do músculo esquelético e funções neuroendócrina e do sistema nervoso. Em suma, cabe ao fisiologista dentro de uma comissão técnica:
Avaliar- a condição tanto física como fisiológica dos atletas para que a comissão possa elaborar adequadamente um plano de treinamento;
Monitorar – para após, com base nestes dados ,se possa analisar o desenvolvimento do atleta;
Controlar- as imposições das cargas de treino sobre os atletas.
É importante reiterar que as informações coletadas são levadas à comissão técnica que em mãos destes resultados dá continuidade a análise juntamente com outros dados trazidos pelos fisioterapeutas, médicos e nutricionistas. Trata-se de um trabalho sistêmico em que atuam muitos profissionais para chegar ao resultado mais completo sobre o real condicionamento dos atletas.
Como funciona na prática?
Primeiramente, após uma sessão de exercício físico o atleta profissional é submetido a uma minuciosa análise que leva em conta a sua resposta observada durante a execução deste exercício. Elas são chamadas de subagudas ou pós-exercício.
Após, são analisadas as respostas imediatas, que ocorrem nas primeiras uma ou duas horas após o exercício, e tardias, quando decorrem de 24 horas pós-exercício. Já os efeitos crônicos, chamados "adaptações", correspondem às alterações estruturais e funcionais decorrentes de um longo período de treinamento físico regular.
Pode-se dizer que o exercício físico age como um verdadeiro estressor do organismo do atleta. Dessa forma, o organismo, em resposta ao exercício físico praticado, fica numa situação de instabilidade. Portanto, a fisiologia serve para elaborar pesquisas que tragam uma visão mais abrangente e integrada dos efeitos do exercício no organismo dos atletas como um todo.
Alguns dados sobre a performance de atletas já são de conhecimento público. Registra-se que um atleta de alto rendimento da Champions League percorre 14,0 km durante a partida, dados apresentados pela Uefa, e a distância final média percorrida durante os 90 minutos fique em torno de 8,5 e 12,0 km. São dados que variam de acordo com a posição, função, equipe e circunstâncias do jogo. No Brasil pouco se sabe sobre este assunto, mas alguns dados extraídos dos clubes demonstram que o percurso chegue próximo à 9,0 km.
Não podemos deixar de destacar que, em se tratando da prática de futebol, há a presença de outros fatores que interferem nestes dados, como por exemplo: o clima, as logísticas de viagem, o gramado, entre outros. Esses fatores climáticos, geográficos e até psicológicos também podem levar o organismo ao estresse e instabilizar de forma a causar danos ao profissional do futebol.

Durante uma partida de futebol, os jogadores ficam expostos em um único campeonato ao sol escaldante de em algumas regiões do país (temperatura extremamente elevada, como nos jogos das 11h) e baixa umidade relativa do ar, o que expõe o atleta a um extremo risco a sua integridade física tanto na parte cardiovascular, como interfere na perda de força, massa muscular e precisão dos movimentos. Em locais onde o clima é muito frio, como no Sul do país, a força muscular é ainda mais prejudicada: o tempo de reação é mais lento o que também gera um aumento de risco de lesão. Até mesmo em dias de chuva há perigos à integridade do atleta. Por isso, a ciência da fisiologia do esporte é tão interessante e envolvente. Nota-se que seu estudo é vasto e complexo e envolve inúmeros fatores antes não considerados relevantes.
Alguns estudos de pesquisadores renomados revelam que mesmo aplicando as melhores técnicas e procedimentos nutricionais e de recuperação nos atletas de alto rendimento que atuaram os 90 minutos a recuperação do glicogênio muscular é demorada. Revelam que passadas 96 horas do fim do jogo é possível que o atleta ainda não tenha recuperado 100% do glicogênio muscular.
Dessa forma, a fisiologia do exercício se divide em duas linhas de investigação: Desempenho esportivo e aplicação clínica. A investigação do desempenho esportivo trabalha com a avaliação dos atletas, os procedimentos de treinamento, o desenvolvimento de capacidades motoras, as respostas agudas e adaptações ao processo treinamento, efeitos do meio ambiente.
Já a aplicação clínica é voltada à saúde onde os estudos abordam a prevenção, tratamento e controle de doenças relacionadas à hipocinesia (deficiência nas funções ou atividades motoras), em especial, as doenças crônico-degenerativas. Como o corpo humano funciona, reage e se adapta frente aos estímulos oferecidos pela prática de exercícios físicos permite a busca por soluções mais adequadas para a melhoria da saúde e do rendimento físico-esportivo.
Como funciona o dia a dia do fisiologista?
Em reportagem ao site Globo.com, o fisiologista do Figueirense, Almir Schmitt, relatou que implementou diante da adversidade trazida pelo novo Coronavírus uma plataforma on-line. Os atletas utilizam a plataforma para atualizar sua condição física por meio de perguntas elaboradas pelo profissional. Foi a forma encontrada para mapear as dificuldades dos atletas do plantel.
Quem ganha com o trabalho do fisiologista?
O atleta, pois tem seu corpo preservado, cuidado, reabilitado e investigado trazendo uma vida esportiva profissional mais longa e melhoria significativa em sua performance; o clube, pois o trabalho do fisiologista previne lesões e consequentemente evita que o clube arque com futuras demandas trabalhistas decorrentes destas, ganha também em poder contar com o atleta, importante patrimônio; o torcedor, que poderá acompanhar por mais tempo seus ídolos em suas equipes esportivas.
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